segunda-feira, 24 de julho de 2023

984 - II TRILHA CICLOTURISTICA DO MARAJÓ



Em um inesquecível final de semana visitamos uma das regiões mais bonitas da nossa Amazônia, a paraense Ilha do Marajó, lembrada especialmente pelo gigantesco rebanho de búfalos e pelas obras em cerâmica.

Com um grupo de alegres e dispostos ciclistas do Amapá, nos municípios marajoaras de Soure e Salvaterra, conhecemos lugares especiais, como as paradisíacas praias de Pesqueiro, Barra Velha, Joanes e Água Boa.

Mas o ápice de nossa prazerosa aventura se deu com participação, em Soure, conhecida como Capital do Marajó, na animada II Trilha Cicloturística do Marajó, que contou com centenas de amantes da bicicleta vindos de várias partes do país.

Habitada inicialmente pelos índios maruanazes, a região ainda mantém uma rotina pacata e tranquila, modificada apenas pelo fluxo de turistas curiosos por conhecer as maravilhas do arquipélago banhado pelos  rios Amazonas e Tocantins e pelo oceano Atlântico. Nessa rota, obrigatório saborear o delicioso queijo de leite búfala e a exótica iguaria local, o turu, molusco afrodisíaco da Amazônia.

Os incontáveis atrativos naturais do Marajó se multiplicam e se fortalecem com a hospitalidade de seu povo, que recebe os visitantes sem economia de carinho e atenção.

Mais uma vez a bicicleta nos levou para longe, para um mundo de fantasia de todos nós ciclistas, deixando um forte desejo de que logo voltaremos para explorar e conhecer outras trilhas da encantada Marajó e da fabulosa Amazônia.

(imagem Google)

domingo, 2 de julho de 2023

983 - O RESGATE DA ASSESSORA


Ontem, participei de um maravilhoso encontro da primeira turma de delegados e delegadas de polícia civil do Estado do Amapá. Ingressamos na carreira em 1992 e nos reunimos para comemorar a linda e produtiva trajetória daquela inesquecível turma.

Em um aprazível sábado, reforçamos amizades de décadas, comemos, bebemos, nos abraçamos, e relembramos muitas e boas histórias compartilhadas nessas mais de três décadas de saudável convivência.

Do meio para o final da festa, vencendo a timidez e o receio, decidi prestar meu inconfessável depoimento. Comecei registrando que, embora marcante e fundamental para a minha vida, fui o delegado de polícia de menor carreira no país, quiçá até do mundo, pois, sem contar o período de academia, permaneci no quadro por apenas trinta e oito dias. Lembrei ainda que, não bastasse o pouquíssimo tempo de atividade, a minha única e relevante diligência externa foi resgatar uma jovem perdida pelas ruas de Macapá.

Eu estava na delegacia em um final de tarde quando um telefonema movimentou o nosso monótono plantão. Um diligente sargento da polícia militar informou que uma moça chorava copiosamente à beira da calçada da Avenida Padre Julio, no centro da cidade, e que a única informação que conseguia  balbuciar é que conhecia o delegado plantonista.

Sem maiores delongas cuidei logo em acionar minha pequena mas valorosa equipe e entramos rapidamente na pouco acessível viatura Toyota Bandeirantes, com cabine dupla e apenas duas portas. Antes, por cautela e segurança , coloquei no cós da calça a arma da delegacia, um revólver, calibre 38, cujo cano longo humilhava o meu.

Ao chegar ao local da ocorrência me deparei com a cena do crime devidamente isolada. Para minha surpresa, a desesperada jovem, rodeada por curiosos,  tratava-se da minha querida amiga e conterrânea Maria Lourdes. Recém chegada do interior do Ceará, Lourdinha, como carinhosamente chamada, desempenhava a função de competente assessora jurídica na Assembleia Legislativa do Estado. 

Logo me inteirei completamente e registrei em relatório os motivos daquela situação que movimentou o plantão policial da à época pacata capital do Amapá. Após o expediente, Lourdinha costumava sair pela porta principal da casa de leis, caminhando poucas quadras pela Avenida FAB até à  Rua Tiradentes, onde morava. Mas, naquela fatídica tarde, a assessora jurídica cometeu o grave erro de sair pela porta dos fundos da assembleia.

Após caminhar algumas quadras, a jovem cearense perdeu o senso de localização e se desesperou, caindo em prantos. Ainda bem que foi acolhida por populares, protegida por militares e resgatada a tempo por minha valorosa equipe de plantão. 

Com a situação completamente esclarecida, com luzes intermitentes e sirenes da viatura ligadas, rumamos para a Rua Tiradentes, a apenas duas quadras de distância do local do crime, onde, em sua casa, deixamos,  protegida e amparada, a localizada e salva assessora Maria de Lourdes. 

(imagem Google)

quarta-feira, 31 de maio de 2023

982 - ENCONTRO DA FOTO CENTENÁRIA



Há algum tempo me encanto com fotografias antigas, sobretudo de nosso berço, Várzea Alegre, município localizado no árido sertão cearense. A prazerosa atividade desenvolvida na última década, de fotografar especialmente eventos esportivos, culturais e familiares, aguçou ainda mais minha curiosidade sobre esses registros históricos

Nos meus devaneios, pensei inicialmente em contar a história dos fotógrafos da nossa terra natal, figuras tão importantes na eternização das nossas lembranças, mas que, na maioria dos retratos, são esquecidas ou raramente identificadas.

E logo percebi que pouco se registrou em fotografia a Várzea Alegre de cem anos atrás. Mesmo assim, revirando os álbuns e as memórias da nossa família, chamou-me atenção a memorável fotografia batida no sítio Mocotó, tão fielmente descrita no livro de memórias de dona Balbina Diniz, de autoria de Maria Eunice. Ali, no início da década de 1920, a família de André José Duarte e Balbina(Dondon) Raulina do Sacramento se reuniu para um raro registro fotográfico. Diferente de hoje, quando os meios digitais permitem incontáveis cliques, naquele dia comumente ensolarado do interior nordestino, apenas uma foto congelou para sempre a primeira imagem de uma numerosa família.

Claramente se tratou de um momento que mudou a rotina daqueles bravos sertanejos. Homens, mulheres, jovens e crianças se prepararam caprichosamente e posaram para um desconhecido fotógrafo. Sabe-se apenas que um japonês registrou a pose formal da família de Papai André e Mãe Dondon. Mais uma vez o nome do profissional sumiu por trás da antiga câmera utilizada para o caprichado registro.

E, das conversas produtivas com os parentes e da busca por fotos antigas e seus autores, surgiu a feliz ideia de, em plena Festa Agosto, neste ano de 2023, em Várzea Alegre, reunir os incontáveis descendentes de Papai André e Mãe Dondon, para celebrar o Centenário do precioso registro de nossa família.

São muitos os motivos para nos reencontrar em um afetuoso congraçamento que realçará a heróica luta de nossos antepassados, reconhecendo, ainda, a importância da fotografia na consolidação de nossa memória histórica e afetiva.

Naquele dia, em apenas um clique, o desconhecido oriental eternizou a origem de uma grandiosa descendência de Mãe Dondon e Papai André, que se espalhou pelo mundo, levando consigo os significativos valores de seus antepassados, que norteiam a vida de todos nos.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

981 - 3º PEDAL NO AFUÁ



Neste janeiro de 2023, a Urbe, tradicional equipe macapaense de ciclismo, levou pela terceira vez cicloturistas do Amapá ao município do Afuá-PA.

Saindo de Macapá, após uma tranquila viagem de navio por quatro horas pelas águas do delta do Rio Amazonas, ansiosos, os vinte ciclistas amapaenses desembarcaram com suas bicicletas na acolhedora e singular cidade do arquipélago do Marajó.

Lembrando a italiana Veneza, vários canais cortam a cidade paraense. Os simpáticos moradores constroem suas casas suspensas sobre palafitas, modelo de edificação que permite a movimentação das marés. A população circula sobre pontes, em sua maioria construídas em madeira.

No primeiro dia de viagem, em um lindo final de tarde, após pedalar cerca dez quilômetros por várias vias da cidade, nosso grupo parou em um quiosque na beira do rio para repor as energias gastas no passeio. Vestidos com os azulados uniformes da equipe Urbe, munidos com capacetes e luzes de sinalização, os ciclistas do Amapá chamaram a atenção de todos, tanto que  João Marcelo, um verdureiro afuaense de 77 anos,  aproximou-se e pediu autorização para fazer uma fotografia conosco.

Após o registro, eu apresentei uma indagação comumente direcionada aos que se interessam pela nossa atividade:

- Seu João, me diga uma coisa: O senhor também pedala??

Imediatamente eu me toquei da minha absurda fala e retirei a idiota pergunta. Afinal, desde tenra idade, mulheres e homens, policiais e bombeiros, taxistas e passageiros, ricos e pobres, todos os moradores do Afuá pedalam, pois a bicicleta é o único meio de transporte daquela pacata cidade paraense. Lei municipal proíbe veículos automotores circulando sobre as dezenas de quilômetros de pontes da cidade. 

Assim, em vez das tradicionais gôndolas da Veneza Italiana ou dos carros e motos que circulam loucamente na maioria das cidades, para nosso deleite, são as bicicletas que completam a bela e indecifrável paisagem da Veneza Marajoara.


(imagem Google)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

980 - O CUNHADO DE PELÉ




Em 1989 eu cursava o quarto ano da graduação na centenária Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. E, com as limitações financeiras da maioria dos estudantes, vivia em Fortaleza com simplicidade, usando o transporte público, pois sem recursos para maiores luxos.

Naquele ano, por conta da coincidência do nome e sobrenome, nos corredores da velha faculdade, surgiu uma história de que eu seria irmão de Flávia Cavalcante, miss Brasil que alcançou o almejado título representando o Ceará. Não bastasse o festejado prêmio de beleza, logo após se tornar conhecida com uma das mulheres mais lindas do país, minha xará e suposta irmã passou a namorar com o Rei do Futebol, o mundialmente reverenciado Pelé.

Pouco tempo depois, em  uma manhã ensolarada, após caminhar vários quarteirões desde o terminal de ônibus, ao me aproximar da faculdade, suado, eu fui abordado por um grupo de colegas na praça Clóvis Beviláqua. Um deles, mais indignado com minha situação, questionou:

- Flávio Cavalcante, eu não me conformo com sua liseira. Cunhado de Pelé e andando de busão…

Mesmo admirando a fantástica careira de  Pelé, mas querendo aproveitar a notoriedade do Atleta do Século, dando força ao boato e fingindo desapreço, eu retruquei:

- Sinceramente eu não gosto muito desse namoro não. Quando Pelé vai lá em casa é a maior frescura. Ninguém pode mais entrar. Não podem saber que ele tá lá…

(Imagem Google)

quarta-feira, 13 de abril de 2022

979 - UMA DOSE DE CHEIRO


A indústria da beleza cresceu consideravelmente nas últimas décadas. Em Várzea Alegre, pequena  e progressista cidade do cariri cearense, atualmente há vários estabelecimentos especializados na venda de perfumes, cosméticos e outros produtos destinados ao embelezamento das pessoas. 

 

Nos dias de hoje, em nossas casas, possuímos vários frascos com desodorantes, colônias e perfumes para o uso pessoal e continuo. Mas nem sempre foi assim. Há cerca de 50 anos, especialmente em noites de festas, depois de se banhar e vestir a melhor roupa, o cidadão se dirigia a uma bodega da cidade para comprar um retalho de perfume. 

            

Em Várzea Alegre, na Casa São Raimundo, tradicional estabelecimento comercial que funcionou ininterruptamente por mais de 73 anos, nos começos de noite, o cliente ingressava, pedindo: 

 

- Luiz Silvino, me venda um “cherin” de Ouvert* aí...

 

Assim, o jovem comerciante derramava uma pequena dose na tampa do recipiente do perfume e entregava ao cliente. Após espalhar o líquido pelo corpo, o satisfeito cliente deixava o local, caminhando pelas ruas próximas do centro da pacata cidade cearense. Exalando o forte e raro cheiro, o perfumado buscava impressionar, também pelo olfato, as moças que por ali passeavam.

 

 

* marca de perfume 

Imagem Google

Colaboração: Luiz Cavalcante (Luiz Silvino)

domingo, 10 de abril de 2022

978 – A COBRANÇA DE TOINHA




 

Nos últimos dias, com muita consternação, o município de Várzea Alegre, no sertão cearense, despediu-se da comerciante Antônia Lisboa de Lima, conhecida por todos como “Toinha Boágua”, proprietária de bar que atendeu com presteza sucessivas gerações de varzealegrenses. 

 

Impossível encontrar algum conterrâneo que não consumiu bebidas alcoólicas ou provou dos apetitosos pratos muito bem servidos pela concorrida cozinha do Bar de “Toinha Boágua”. 

 

Na década de 1980, com sua natural simpatia e infinita disposição, Toinha  comandava seu movimentado bar no Calçadão Antônio Alves Costa, setor comercial e boêmio da progressista cidade do sertão caririense.

 

Em uma tarde de sábado, próximo ao fim do mês, o bancário Luiz Bitu, fiel cliente do bar, tomava uma cerveja gelada e conversava com Toinha, quando a extrovertida proprietária pediu:

 

- Luiz, como você trabalha no BEC*, faça um favor pra mim.  Escreva uma carta prum guarda da SUCAM que almoçou uns dias por aqui e foi simbora sem pagar...

 

O atencioso bancário, em uma folha do caderno do bar, rapidamente redigiu uma carta de cobrança endereçada ao esquecido funcionário da hoje extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública– SUCAM. 


Em seguida, Luiz indagou:

 

- Taí a carta, Toinha. Tá boa? O que eu faço agora? – Perguntou o inocente bancário que, sempre pagava as cervejas e os tira-gostos que consumia, ao receber o salário, no final de cada mês.

 

Imediatamente, a espirituosa Toinha respondeu:

 

- Luiz, tá boa demais. Agora aproveite e escreva uma cartinha dessas pra você também...

 

 

* BEC – Banco do Estado do Ceará, privatizado em 2005.

(imagem Google)

 

Colaboração: Luiz Bitu e Júlio Bastos Leandro

 

         

segunda-feira, 19 de março de 2018

977 - SANTO PADROEIRO (Republicado em homenagem a São José(



     Em fevereiro de 1991 cheguei a Macapá. Além de perceber imediatamente a simpatia e hospitalidade do povo amapaense também fui recebido por fortes chuvas. Gostei. Não poderia ser diferente, pois cearense do sertão adora tempo chuvoso e calor humano.

     Não demorei a descobrir que além de dar nome a uma majestosa fortaleza, construção símbolo do Amapá, São José era padroeiro de Macapá. Bela coincidência, pois o homem descrito nas escrituras sagradas como justo, obediente e trabalhador, também fora escolhido padroeiro do Ceará.

     Chegou março e no dia 19, como nos outros dias do mês, caiu muita água dos céus de Macapá. Fiquei esperançoso, pois esse dia serve de referência para os cearenses na previsão da estação invernosa. Chover no dia de São José é sinal de um ano de bom inverno e de muita fartura.

     Poucos dias depois liguei para o Ceará para falar com minha querida avó Maria Amélia. Ansioso, fui logo dizendo:

     - Vovó, este ano o inverno vai ser bom, caiu a maior chuva no dia de São José.

     Porém, para minha surpresa, vovó falou:

     - Meu , só se foi aí, pois aqui não caiu um pingo d’água. Faça uma prece para São José distribuir melhor essas chuvas com seus afilhados

(imagem Google)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

976 - O MACHADO E O AMAZONAS



            Moro há 27 anos em Macapá, às margens do Amazonas, maior rio do mundo em volume d’água. Mas nasci no centro-sul cearense, em Várzea Alegre, onde o pequeno e intermitente Riacho do Machado representa para o sertanejo local o que o Amazonas significa para a povo da região Norte do Brasil.

            Citado no Hino de Várzea Alegre, na letra do compositor Zé Clementino, as águas do município cearense deslizam mansas no Riacho do Machado. E em férias pelo Ceará, no início de 2018, aproveitei para, com um pequeno grupo de parentes e amigos, melhor conhecer esse córrego tão importante para a agropecuária e para o abastecimento de nossa cidade.

            Estivemos no sitio Mameluco, distrito do Riacho Verde, onde, da encosta da serra do Rubão, duas grotas se unem pra formar o nosso Riacho. Deixou-nos preocupado o baixo volume do Açude Olho D’Água, o seu principal reservatório. Dele sai a água que abastece a sede do município.

            Caminhamos em outros locais por onde o temporário Machado percorre, formando um imenso vale, chamado popularmente de “ribeira”. Compondo a microbacia do Rio Salgado, o riacho molha também terras de municípios vizinhos, até sua desembocadura no Sitio Juazeirin, em Lavras da Mangabeira. Ali conhecemos onde suas águas se juntam ao Salgado e depois seguem em direção ao Jaguaribe, principal rio do Ceará.

            Só quem vive no semiárido nordestino entende porque o encantamento e respeito por um riacho temporário, que passa o maior tempo sem água, especialmente em sucessivos anos de chuvas abaixo da média como ocorrido recentemente. É que a ansiada cheia do Machado representa a esperança do povo por uma boa safra de legumes, de uma pecuária sem perdas e da garantia do precioso líquido nas torneiras das milhares de residências.

            Em breve volto para a capital do Estado do Amapá levando na bagagem essa rica experiência vivida nas férias. E sei que ao passar pela orla do volumoso Rio Amazonas lembrarei do sofrido e seco Machado, esperançoso que a temporada de chuvas deste ano encha de alegria o leito daquele riacho que banha uma parte do sertão cearense.

(Imagem Google)

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

975 - O CANTO DOS SAPOS




            O sapo-cururu, no início do período das chuvas do sertão nordestino, deixa os ambientes úmidos e invade os terreiros das casas, em busca de  insetos, seu alimento preferido.  O esquisito animal, de pele rugosa, possui poucos predadores na natureza, por isso se reproduzem em grande escala.

        Próximo aos pântanos e lagoas, ouve-se repetidamente o coachar dos sapos. Os pesquisadores descobriram que a insistente vocalização, comuns aos machos, serve para marcar território e atrair as fêmeas para o acasalamento.

            No sítio Lagoas, município de Várzea Alegre, como o próprio nome sugere, repleto de pequenos lagos naturais, o canto dos conhecidos anfíbios interrompem o silêncio das noites sertanejas. Gilson Primo, conhecido produtor rural da região, bem humorado observador, não discorda dos estudiosos. O varzealegrense sustenta que o cantar dos sapos escondem um repetido e sensível diálogo. Na beira da lagoa, um dos sapos mais velhos, líder do grupo, em voz alta, emendando uma palavra na outra, pergunta:

           - Quando eu morrer quem é que vai ficar com mia muiéééééééééééé ??

            Sem pestanejar, os outros sapos do grupo, em um cantado soluço, aos pulos, respondem:

 -    É’ieu, é’ieu, é’ieu, é’ieu, é’ieu, é’ieu... 

Colaboração: Rafael Primo
(imagem Google)

sábado, 13 de janeiro de 2018

974 - CAMINHOS DO SERTÃO




         Caminhando pela zona rural de Várzea Alegre, cuidamos da nossa saúde física, realizamos uma profilática higiene mental e melhor conhecemos a nossa querida terra natal. 

         Hoje, o percurso escolhido nos rendeu um gosto especial. Eu, meu irmão Fernando, meu primo Antônio Costa e o amigo Valdin Viana, com início no fim da tarde, caminhamos por cerca de uma légua – seis quilômetros - do sítio Caldeirão à Lagoa das Panelas.

         Na antiga estrada carroçal, refizemos parte do caminho usado durante anos por camboeiros, retirantes e romeiros. Ali nos deparamos com uma cruz fincada à beira da estrada para lembrar a morte de um trabalhador, ocorrida em 1932. 

        No pouco habitado percurso, percebemos, praticamente intocadas, árvores espinhosas e outras comuns à vegetação típica da caatinga. No meio do ermo trajeto cruzamos o leito seco do Riacho do Machado, principal córrego do município cearense. 

         Na parte final da nossa atividade, no escuro da noite, no topo de uma íngreme ladeira, no sítio denominado Taba Lascada(Mulungu), paramos para descansar e beber água na residência do simpático casal Joaquim Nosa e Emília Frutuoso. Após uma rápida conversa, na despedida, da calçada alta, comentamos sobre um alvissareiro relâmpago que se repetia no poente, indicando, para nós, a chegada de uma ansiada chuva no sertão.

         Dona Emilia, nos seus 86 anos de experiência e sabedoria, desanimada por conta dos sucessivos anos de estiagem, com bom humor, retrucou:

         - Esse relampim aí é veaco, num confio nele não...

(imagem Google)

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

973 - CASAMENTO EM GUARAMIRANGA

   
      Guaramiranga, nome dado a uma pequena e hospitaleira cidade do interior cearense, em tupi guarani significa pássaro vermelho. Encravada em pleno sertão cearense, situada a pouco mais de 800 metros de altitude,  a cidade goza de um clima pouco comum ao calorento semiárido nordestino. Na sexta à noite, na bem frequentada praça principal do município, o termômetro  marcou 16°C.

         E nessa aprazível região, remotamente habitada pelos índios Canindés, passamos um inesquecível final de semana. Foram poucos dias, com frio serrano, calor humano e fortes emoções.

         Mas não foi o clima ameno e a beleza do lugar que nos levou a subir a Serra. Na verdade, ali estivemos para acompanhar a emocionante cerimônia e a perfeita recepção que marcaram o casamento da minha prima e afilhada Natália com João.

         Em um deslumbrante fim de tarde de sábado, o belo, jovem e equilibrado casal recebeu o sacramento do casamento na igreja de Nossa Senhora de Lourdes - da Gruta, celebrado pelo descontraído padre Fernando. Logo em seguida, com familiares e amigos, os recém-casados festejaram a união em um maravilhoso ambiente de congraçamento.

         Além de acompanhar o concorrido casamento da minha afilhada, aproveitamos para visitar interessantes locais da exuberante região serrana.  Do Pico Alto, a 1115 metros acima do nível do mar, segundo ponto mais alto do Ceará, curtimos uma magnífica vista do árido sertão cearense. No Parque das Trilhas, percorremos estreitos caminhos e conhecemos a rica e variada vegetação serrana. Ali também ouvimos atentamente sobre a lenda de Judite, que deu nome a uma das íngremes trilhas do parque. Segundo o nosso guia, às seis horas da tarde, Judite, uma jovem que há décadas morreu triste por um amor não correspondido, reaparece no local e leva consigo os homens que por ali se encontram.

         No final do domingo, descemos a serra com a feliz certeza de que nossa afilhada e prima Natália realizou seu sonho de princesa. E, ainda,  com a possibilidade de alguns dos muitos dos rapazes solteiros e encalhados da família não encontrarem sua alma gêmea, traremos para um passeio às seis da tarde na lendária Trilha da Judite.


(imagem Google)

domingo, 17 de setembro de 2017

972 - ROCK IN RIO 2017

  
Na primeira edição do  festival de música idealizado pelo empresário Roberto Medina, em 1985, eu, lá no Ceará, sonhei em assistir ao vivo, aos shows de Queen, Rod Stewart, Barão Vermelho, Alceu Valença, Paralamas do Sucesso e muitos outros.

Passaram várias edições para que eu realizasse em 2017 o sonho do jovem cearense e curtisse o desejado Rock In Rio. As atrações mudaram, o público mudou, eu mudei e o amor às minhas filhas Alice Maria e Ana Luiza me levou ao Rio de Janeiro. As duas adolescentes escolheram as datas com espetáculos de Shawn Mendes, 5 Seconds Of Summer, Maroon 5, Fergie, Whindersson Nunes, Skank e Ivete.

No sítio eletrônico do festival, não consegui os concorridos ingressos do segundo dia, justamente na data onde se apresentaria o canadense de 19 anos, Shawn Mendes,  principal atração do festival para as minhas filhas e para milhões de outras adolescentes do planeta. Mas, no Rio, a preço de ouro, de cambistas, adquiri os ingressos do dia tão desejado.

Na véspera do show de abertura recebemos a triste notícia do cancelamento da apresentação de Lady Gaga. Uma grande decepção que virou festa em frente ao hotel reservado para a estrela pop. Se não veríamos a famosa novaiorquina, vibramos ao assistir na calcada de Ipanema a performance da divertida cover brasileira Penelopy Jean, que roubou a cena do dia e depois subiu aos palcos do Rock In Rio.

Este ano, estrelas da internet também brilharam, como Whindersson Nunes que juntou multidão para ouvir suas divertidas paródias. Numa delas, o fenômeno  piauiense ensina a cantar em inglês com a música "não sei o que lá", recriando famosa obra da banda americana Guns N' Roses.

Depois de dois dias de grandes espetáculos, volto pra casa, em Macapá, na companhia de Alice Maria e Ana Luiza com a bagagem abarrotada  de emoções e lembranças.  Espero que em 2030 ainda tenha força e energia para voltar ao Rock in Rio e refazer a divertida e emocionante viagem, dessa vez acompanhando nossa filha caçula Ana Flávia, que hoje conta com apenas 2 anos de idade.


(imagem Google)